maldito transgressor

maldito transgressor
A hipnose é tão aconchegante...
O costume a inércia...
A responsabilidade em ser inteiro adormecida...
A verdade miando lá fora na chuva...
A Televisão que faz o tempo passar tão rápido e confortável...

Não ouço mais os gritos seus
Não ouço mais os gritos meus
Não ouço mais os gritos
Não ouço mais
Não ouço
Não
Ñ
~

HAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Loucura e Arte



Loucura e Arte

E o que é a arte, se também como a loucura ainda se busca uma definição, e, dentre centenas, nenhuma satisfaz plenamente a todos. Em seu livro Arte é o que eu e você chamamos Arte, Frederico de Morais nos apresenta 801 ( oitocentas e uma )definições de Arte , sem contudo esgotar as possibilidades de defní-la.
Para Picasso por exemplo, “ A arte é a mentira que nos ensina a ver a realidade.”
Poderíamos dizer que a arte é uma forma particular de “ver” a realidade. É mentira no sentido de que está no mundo das idéias, da palavra, da cor, da forma e que usadas como símbolos tenta uma elucidação do pensamento , uma representação do real.
 
 
 
 
 

Por que meandros passam os processos criativos do artista? Segundo Freud “o escritor reajusta seu mundo de uma nova maneira, que lhe agrade e portanto é capaz de criar um mundo próprio.” Creio podermos aplicar este pensamento para qualquer área da criação artística.
Há algum tempo que temos conhecimento de que a pintura, a escultura, o desenho e a música têm feito parte de processos terapêuticos em alguns casos de doenças mentais (paranóia, hebefrenia e catatonia), cujo suporte é orgânico ,e que se referem aos distúrbios da personalidade como um todo, e das neuroses ,que se referem apenas a um setor da personalidade, sem contudo comprometer a estrutura do pensamento, do contato afetivo com o meio e da sua consciência crítica.
O indivíduo para ser considerado normal depende de comparações com o que é considerado anormal . Portanto ,o parâmetro para medirmos o normal é a anormalidade. Mas o que é a anormalidade? Sabe - se que, muitas vezes a linha que separa o normal do anormal é muito tênue.
Mas aqui estamos nos referindo as patologias cujo suporte é orgânico e envolvem a perda do contato com a realidade, ou seja, que se relacionam com os processos delirantes.
Mas se a arte é produto de uma forma particular de “ver “a realidade, mas sem contudo estar em outra realidade, ou de “ver”, mas sem estar vivendo nela, o que um louco faz é arte?
No Brasil, nos anos trinta, um grupo de artistas que se denominavam CAM (Clube dos Artistas Modernos), dentre eles o polemico Flávio de Carvalho, promoveu trabalhos pioneiros, como exposição de desenhos de crianças e de doentes mentais.
Na França, o pintor Dubuffet, pesquisando no anos 40 este tipo de obra a chamou de Art Brut ( arte bruta), uma alusão ao comércio do vinho, onde um vinho bruto é um vinho não contaminado. Para ele então, a arte do louco seria uma arte pura, não “contaminada” pela cultura. Existe realmente esta possibilidade ?
No final dos anos 70, o pesquisador inglês Victor Musgrave, surpreendeu a Europa com uma grande exposição na Hayward Gallery em Londres, a qual chamou de “Outsider” (algo em torno de estranho ou marginal), onde todos os trabalhos foram feitos por portadores mental.
Musgrave reconhece que nem todo trabalho tenha um valor artístico, assim como muitas pessoas ditas normais, desenham, pintam, esculpem, ou mesmo estudam arte, mas não são capazes de produzir um objeto artístico.
 
 
 
 

 
 


 

Pensado desde 1946, mas só se tronado uma realidade em 1952, o Museu do Inconsciente, iniciativa brasileira única no mundo a qual devemos a médica psiquiatra Nize Magalhães da Silveira, vem atraindo a curiosidade, admiração e questionamento de estudiosos e artista do mundo inteiro.
Com tudo, Dr. Nize dizia “aqui não existem artistas, mas pessoas que expressam seu mundo interno. A estética porem, prosseguia ela, não é incompatível com a ciências – e, se algum dos pacientes for considerado artista, ótimo,” Para alguns críticos muitos assim já o foram considerados. Mas no entanto há uma resistência no mundo todo para não se considerar arte o trabalho dos loucos.
Numa entrevista concedida à Revista Veja em 18/09/1981, Victor Musgrave afirmou que, muitos Museus como a Tate Gallery de Londres, já possuem em seu acervo muitas obras de loucos, mas não as expõem.
Por que? Preconceito? Fica a pergunta.
Nos anos 90, comparado a Marcel Duchamp, Arthur Bispo do Rosário, ex marinheiro e interno da colônia Juliano Moreira por meio século, e que morreu em 1989, foi considerado um gênio quando seus trabalhos foram exposto na Bienal de Veneza.
Para o Professor Rui Chamone Jorge, pode se estabelecer semelhanças, diferenças e destino dos objetos artísticos e terapêuticos. Dentre suas proposições está a de que “ o objeto artístico parte de um impulso criador selecionado e o objeto terapêutico parte de um impulso orientado pela intuição, dirigido à sensibilidade, quando não há seleção de estímulos.”
Para alguns ,o artista bruto não deve ser simplesmente definido como louco, mas deve ser incluido no grupo das minorias.

No jornal O Globo de 10 de outubro de 2000,o crítico de arte e ensaísta Luiz Camillo Osório é tachativo ao afirmar “ que não há nada mais fora de moda do que ficar pontificando se tal coisa é arte ou não. Todavia, algumas vezes tais distinções são necessárias.(...)Por mais emocionante que seja uma pintura de Fernando Diniz, ou mesmo o manto do Bispo do Rosário, aquilo não é arte.(...) Sem conciência, sem intencionalidade não se faz arte.”
Mas se os conceitos de arte na modernidade ampliaram seus limites, se Aristóteles já afirmava que a arte nem sempre está ligado ao belo e se algo nos toca e nos coloca em um estado de sublime contemplação, mesmo assim será necessário un atestado de sanidade para o autor de uma obra para que esta seja considerado arte?


Fotos - Beto de Faria



Nem arte, nem loucura


O verbo surtar ganhou status e glamour. Hoje em dia todos surtam. É a moda
 


 
A sociedade apropriou-se da loucura como um bem descartável, banindo o que havia de sagrado e maldito nesse estado alterado de consciência. Empanturrou-se de drogas, de medicamentos, de álcool e fumo. E também de psicanálise. Na derrapada, confundiu o estado de transe criador com o delírio esquizofrênico, o jejum da ascese com a anorexia nervosa, a náusea existencialista com a bulimia das modelos de passarelas. A fantasia de que os artistas são seres fragmentados é própria de uma sociedade com rupturas.
Os poetas buscaram o absoluto, um fluxo permanente de criação a custo de trabalho e sofrimento. Nietzsche não escreveu delirando, Schumann não compunha em surto psicótico, nem Van Gogh pintava quando estava alterado. Os Upanishads, textos sagrados do povo indiano, definem o vazio que antecede o ato criador como um instante de comunhão com o ser: “O mais alto estado se alcança quando os cinco instrumentos do conhecer permanecem quietos e juntos na mente, e esta não se move.” Êxtase, iluminação, revelação ou inspiração, qualquer nome que se queira dar a esse estado, não corresponde à loucura. Ao contrário, é puro saber. O poeta inglês Wordsworth escreveu que “a poesia é emoção relembrada em tranquilidade.” O mesmo pensou Freud quando afirmou que no ato criador há um fluxo de ideias e imagens que jorram do inconsciente, mas são polidas pelo consciente.
Na era moderna, o artista desprezou a natureza coletiva da criação, assumindo um exacerbado individualismo. Atribuiu a si próprio a única responsabilidade por sua arte e nomeou-se “criador”, epíteto antes usado apenas para designar os deuses. A autoria virou a marca do nosso tempo.
Os pintores zen-budistas não assinavam suas aquarelas porque acreditavam que elas só adquiriam existência ao serem contempladas. Qualquer pessoa que a olhasse se tornava o autor, pois a reinventava a partir daquele instante de contemplação, conceito filosófico vago para a nossa mente ocidental monoteísta, que atribui a criação do mundo a um Ser único. A modernidade buscou assinaturas onde elas não existiam, em trabalhos reconhecidamente coletivos, de mestres e discípulos. Os afrescos italianos pintados por confrarias de artesãos tornaram-se obras exclusivas de Giotto, Duccio, ou Pisanello. Apagaram-se os nomes dos pintores especialistas em mãos, pés, olhos, douramentos, pregas de mantos, molduras, que trabalharam em paredes de igrejas e palácios, acreditando que bem melhor do que sonhar uma obra de arte é realizá-la. Buscou-se a assinatura do criador único, por mais oculta que ela se encontrasse, sob camadas de tinta.
Entre as nações tribais, bastava que um membro se desgarrasse dos costumes para ser punido com a expulsão ou a morte. A mitologia está repleta de heróis que padeceram na luta pela individuação. Quando uma sociedade se confronta com um artista, ela tanto pode aliená-lo de sua coletividade, como elegê-lo seu representante. Ao mesmo tempo em que ela cobra dele que rompa com as regras, transgredindo, extrapolando, derrubando muros, pune-o por essas transgressões.
Surge a figura moderna do artista neurótico, perplexo e fragilizado, que não distingue o eterno do descartável, porque também não lhe interessa essa distinção. Tudo é consumido numa velocidade alucinante. O novo envelhece em poucas horas, criam-se novos simulacros, as prateleiras são repostas. O artista se transforma em fabricante de escândalos, em alucinado. Confunde-se arte e produto, poesia e escracho, êxtase e exposição da imagem. E o atributo de loucura serve apenas à ambígua função de justificar o artista ou execrá-lo.
 
Ronaldo Correia de Brito (Autor de Livro dos Homens)

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