Minha experiência com o Clown é, sem dúvida alguma, bastante prática. Não existe outro modo de se pesquisar a linguagem do Clown, principalmente quando falamos do Clown da Tradição Circense, que não se estuda apenas pelos livros, mas também com pesquisa de campo e contato com os artistas circenses.
Falar em Tradição Circense do Clown significa referir-se à evolução desta linguagem cômica ao longo de séculos de fazer circense na História da Humanidade. Esta tradição é transmitida sobretudo oralmente, pelas famílias circenses, que ou conservam consigo este conhecimento e produção, ou transmitem-no a outros artistas. Ainda assim, o próprio público mantém esta memória viva, do que se conclui que a dificuldade de acesso a espetáculos tradicionais de fato restringe a difusão deste conhecimento. Ainda assim, é evidente, o Circo não morrerá.
Há uma corrente que prega a distinção entre Clown e Palhaço no sentido de teatralizar o Clown e afastá-lo da Arte Circense. Por incrível que pareça, essa corrente é forte e resistente ainda hoje, apesar das tantas pesquisas e estudos sobre Clown que ela mesma produz. Grande parte dessa corrente, que deveria esclarecer o assunto com conceitos bem fundamentados, desconhece as raízes circenses e, assim, toma hipóteses como verdades práticas inerentes ao trabalho do Clown.
Em geral, os teóricos do Clown predominam como representantes dessa corrente, e classificam o Clown e o Palhaço como trabalhos distintos e distantes, criando mais dúvidas que esclarecimentos. Se pudermos colocar esse entendimento em palavras genéricas, elas seriam como se segue abaixo:
O Clown é um trabalho muito mais complexo e refinado que o Palhaço, porque o Clown é do teatro, é minimalista e sutil, e íntimo ao público através de seu olhar profundo e sincero, enquanto o Palhaço é do picadeiro, é exagerado e grotesco, faz tudo grande para ser visto por todo o público que o rodeia.
Esse entendimento me surpreende porque afasta o Clown do Circo, sua origem histórica. Tristemente, a distinção entre Clown e Palhaço contamina muitos iniciantes nos cursos de Clown, cursos que pipocaram por todo o país nos últimos anos. A própria noção de Clown de muitos professores é confusa, e várias vezes me deparei com pesquisadores orientadores pregando que Clown que se preza é MUDO! Como assim? Será um tipo novo de mímico? Eis portanto um dos motivos de se confundir o Clown com o Mímico, quando este faz cenas cômicas. Marcel Marceau, o famoso mímico francês, tem muitas cenas cômicas em seu repertório, e nem por isso ele é um Clown.
Há um grande equívoco aí, um desprezo ao fazer circense e um desprezo ao artista de família circense, que continua resistindo à falta de apoio e às sucessivas crises econômicas com criatividade e muita coragem. É como se o Palhaço da Tradição Circense fosse um trabalho sem critério nem estudo, enquanto que o Clown do Teatro, mais elitista, requeresse uma delicadeza desenvolvida através de anos de estudo acadêmico e científico, estudo restrito aos intelectuais e teóricos do Teatro.
Desconhecer a prática circense, e até mesmo ignorá-la diante da classificação acadêmica mencionada, é negar o Clown, não somente por negar sua origem como também por negar a sua essência. O Clown possui uma comicidade específica, é uma linguagem muito antiga, uma Arte tradicional, e assim merece todo o respeito.
Não diferencio Clown de Palhaço, mas não confundo o Clown com o Mímico, pela pesquisa circense que realizo. Considero a evolução histórica do fazer circense como fonte primeira da existência do Clown, e portanto, esta pesquisa é fundamental.
No Circo, as regras para o Clown são poucas e claras: o Clown é o personagem circense que traduz a criança, para a qual o Circo cria toda a sua fantasia. Seja esta criança jovem ou adulta, a fantasia de um espetáculo circense busca encontrar no público uma identificação pessoal e emocional, transportando-o para a infância comum a todos, na qual a fantasia se realiza, os sentimentos se expressam com naturalidade e a imaginação ganha vida além da limitação humana.
Não se trata de utilizar efeitos especiais – como as superproduções milionárias e shows, cujas marcas pagamos caro para consumir. O Circo, personificado nos Clowns, procura em suas apresentações fazer o público redescobrir, na vida comum e concreta, na dura e séria realidade do próprio público, o que encanta a criança em seu aprendizado dia-a-dia. Redescobrir-se, descobrindo o que um ser humano como qualquer um de nós é capaz de fazer, é um dos efeitos mágicos que o Clown tem sobre a platéia. Ele demonstra a todo instante como coisas simples e bobas da vida cotidiana podem mexer tanto com nossa humanidade.
Por isso o Circo Tradicional é e deve ser popular, deve estar próximo do povo, e tal característica faz parte da natureza prática do Clown. Engana-se quem diz que Clown não é para criança, assim como faz um outro tipo de trabalho aquele que não vê no Clown esta íntima ligação com o lúdico infantil, pois é esta uma de suas principais essências.
Quem aposta na diferenciação entre Clown e Palhaço, e considera o Palhaço tão distante do público como o seu artista-criador do saber científico, na minha opinião, também reforça o preconceito que existe em relação ao artista circense que atua no picadeiro. Infelizmente o artista de Circo é considerado por muitos um artista inculto, inferior, rústico e grotesco, sem a sensibilidade que a Arte demanda. Às vezes, é até desconsiderado como artista-criador.
Discordo desta diferenciação diante de minha pesquisa, que começou quando tive meu primeiro contato com a família tradicional Colombaioni, de palhaços italianos. É a partir da orientação dela, na pessoa de Léris Colombaioni, que comecei meus estudos sobre a Tradição do Clown. Nutro imenso respeito pelo artista circense, por seu saber notável que tanto serviu e vêm servindo aos teóricos da academia inclusive, e defendo ser o Clown da Tradição Circense tão sutil e refinado quanto qualquer outra criação da Arte Cênica. Defendo o saber circense como Ciência, que envolve tantas áreas, da anatomia humana à física, da engenharia à antropologia.
Circo e Teatro sempre se comunicaram, evoluíram juntos, compartilham diversos recursos e linguagens artísticas, dentre os quais destaco a Mímica, a Dança, a Acrobacia e a Música. Mas é fato que, com a evolução da sociedade, a produção circense modificou-se, adaptou-se, e não depende mais do picadeiro. O Circo Tradicional é, como sobrevivente secular, ligado ao seu tempo presente. Ele é contemporâneo e social. É preciso preservar a Tradição Circense, e para tanto, saber identificá-la como Arte e conhecê-la. E conhecer o Circo e o Clown implica conhecer sua prática, que cada vez mais deixa o picadeiro para se realizar nos palcos, shows, eventos, e em uma série de outros espaços, como os hospitais. Não fosse o Circo, como existiria o Clown?
Dizem ser difícil esse contato com o Circo Tradicional, e o discurso de que o Circo está morrendo, um discurso muito antigo – lembra a pesquisadora Dra. Ermínia Silva sobre a História do Circo –, certamente reforça a crença de que é difícil encontrar o Circo hoje. É difícil não sabermos o que procuramos.
Me admirei uma vez, conhecendo a autora de um desses livros de definições teóricas de Clown, quando ela confessou nunca ter visto um espetáculo de Circo. Para quem escreve livros a respeito, me pareceu bizarra a declaração, a menos que o faça somente pelo dinheiro que rende a publicação de tal tema. Neste caso, ai de nós, desavisados.
O Clown Tradicional é inconfundível quando se o conhece na prática. Pena que, às vezes, me pareça que esse Clown não interessa a tantos artistas contemporâneos como interessava há algumas décadas. É provável que a maioria, agora, procure a comicidade tão em moda do Humor Stand-Up, mas independente disso, o Clown Tradicional sobrevive. E continuará sobrevivendo, adaptando-se a outros espaços, linguagens e recursos.
Falando de acessibilidade, existem hoje circulando muitos vídeos oficiais e não-oficiais de grandes Clowns da Tradição Circense. Existem inúmeros artistas circenses na história do Cinema, em filmes e documentários bastante acessíveis, além de participações especiais em produções para a televisão e para o teatro. Este material é encontrado com certa facilidade, o que claro, não substitui assistir ao vivo um espetáculo tradicional circense, com toda a diversidade artística que o caracteriza.
Então, como se pesquisar o Clown? Como estudá-lo? É claro que a possibilidade se dá na medida do interesse do pesquisador. O material está, sim, disperso. É preciso garimpá-lo, procurar registros históricos dos nomes dos artistas, conhecer as famílias, alcançar depoimentos, documentos, notas em jornal, aparições filmadas, fotos, conhecer se possível as pessoas que estudam e praticam atividades circenses. Ainda que seja difícil ir a um Circo de Lona, só não se aprofunda no estudo do Clown quem tem outros objetivos.
Além do material circense em circulação, das referências históricas e fontes que ainda podemos encontrar, acredito que para quem não quer apenas compreender o Clown, mas sim vivê-lo, a prática é o melhor estudo. Isto porque o Clown é sem dúvida humano, infantil, cômico e popular, e busca sempre, como fim principal, o RISO do público.
Para se estudar com profundidade o Clown, o público é nossa grande referência, e seu riso nossa melhor orientação. O público espera a comicidade da imagem do Clown, e sendo assim, um Clown que não objetiva o riso não é Clown... é um outro tipo de trabalho cênico, servindo-se da estética circense apenas como apelo comercial, a exemplo de tantos livros teóricos sobre o Circo, e de tantos cursos de iniciação ao Clown que pipocam por aí.
Concluindo, portanto, o estudo do Clown requer o estudo do Circo Tradicional, de sua evolução e história, das referências da prática circense, das fontes humanas da produção circense. Estudar o Clown requer, ainda, preservar a tradição, mantendo-se fiel à verdade dos fatos e reconhecendo o mérito dos artistas circenses e sua luta pelo Circo.
Por fim, estudar o Clown requer praticá-lo, vivê-lo diante do público, para o público, pela criança. Talvez apenas assim se possa afirmar que, de fato, se estuda e compreende a Arte do Clown. Pesquiso o Clown há pouco mais de oito anos. Este é meu tempo de estudo prático, e posso afirmar seguramente que quanto mais se vive o Clown mais se aprende sobre como vivê-lo. É um aprendizado para uma vida inteira.
Clown: criação pessoal?
O processo de criação e desenvolvimento do Clown é, por muitos, considerado uma "descoberta pessoal". Concordo que a linguagem do Clown, de fato, implica um auto-conhecimento, mas questionei: é uma especificidade do Clown ser um trabalho tão pessoal? Em sendo o Clown um personagem cômico, e assim, um personagem circense completamente adaptável para o teatro, não seria pessoal a criação de qualquer outro personagem?
A partir desse questionamento, considerei também investigar outra dúvida constante: o Clown nasce por vocação individual, ou ele pode "ser criado" por qualquer pessoa, possua ou não esta pessoa uma vocação natural para a comicidade do Clown?
Neste artigo, apresento minhas impressões e opiniões pessoais sobre o assunto, que já começa com a polêmica conceituação do que é o Clown. Como entendo, o Clown é um personagem cômico e infantil, de origem na tradição e história circenses.
No Circo, evidentemente, o Clown também revela suas heranças, anteriores à estrutura do que chamamos hoje de Circo. Dessas heranças, a mais aceita por mim se refere a "personagens", pois penso ser o Clown do Circo criado e emprestado do teatro popular de rua, inspirado nas máscaras medievais da Commedia dell'Arte e nas posteriores "Arlequinadas", e até apresentado pelos artistas cômicos de rua a convite do Circo, conferindo a este seu caráter nômade. Ainda que se saiba ter o Clown muitas origens históricas, creio ser o teatro de rua uma das mais fortes possibilidades ou influências.
Aos que combatem a idéia de ser o Clown um personagem, a definição mais aceita é a de ser um trabalho de "entrega total" da pessoa do ator, revelando intimidade, flexibilizando defesas e expondo o seu ridículo pessoal. Segundo estes (que eu chamo de "acadêmicos"), o Clown é individual, é o artista "nu", e, portanto apresenta toda a sua complexidade humana aflorada à pele, nem sempre a serviço da comédia e do fazer rir, expectativas naturais do público em relação à imagem do Clown.
Todavia, não são conceituações que podem se relacionar? O estado frágil do ator exposto não sugere a este uma nova conduta, uma nova lógica individual, novas defesas naturalmente criadas, novos raciocínio e comportamento corporal? Não pode este estado ser visto como uma identidade nova, diferente da real, e que não seria de fato uma individualidade sustentável na realidade cotidiana?
Creio que podemos, sim, ver este estado de extrema vulnerabilidade e ridículo como uma identidade criada, um personagem estranho ao mundo moderno e à realidade da vida social. E na mesma medida, eu também posso aceitar que, sendo personagem pensado e concebido pelo ator-criador, é muito possível e natural que o artista empreste a esta criação muito de seu lado pessoal e íntimo. De suas expressões às experiências de vida, é o Clown, enquanto personagem, também uma criação pessoal.
Penso até que, a qualquer personagem, o artista empresta muito de si, tornando sua criação pessoal. Prova disso é, no teatro, existirem infinitas maneiras de se representar um mesmo personagem. Ainda que este não mude, em lógica, falas, ações, a realização do personagem em cena personaliza-se conforme cada artista que o interpreta.
O que considero, no Clown, ser tão marcadamente pessoal, é o meu entendimento de que, conforme a tradição circense, ele é sem dúvida um personagem infantil, e sendo a infância comum a todos nós, colocamos muito de nossa experiência infantil no Clown. Essa experiência torna cada Clown personalíssimo.
O desafio da linguagem do Clown, então, é justamente: como ser tão autêntico e espontâneo como é a criança? Eis, parafraseando Shakespeare, a questão! That´s the question!
Antes de entrar na relação com o público, e de, nesta relação, desenvolver a comicidade, criando a situação cômica e encontrando o melhor tempo cômico para o desenvolvimento de cada acontecimento, há que se ter criado um personagem – naturalmente, pessoal – que expressa com naturalidade a essência de uma criança.
Entendo o Clown como sendo nossa imagem pessoal de como vemos a criança, considerando que a criança mais familiar a nós é a nossa própria. Dentre os muitos adjetivos que relacionamos à infância, creio que o melhor deles seria "viva", pois a criança, pela espontaneidade, alegria, criatividade, curiosidade, energia, exala a vida a todo momento!
Uma criança doente não se faz tão presente assim. E não por acaso, filmes de terror costumam nos chocar com imagens de crianças "mortas". O simples pensamento deste contraste entre vida e morte, infância e fim, é absolutamente assustador.
Como então fazemos um personagem tão vivo a ponto de quase voltarmos a ser criança? Não podemos voltar. Representamos, contudo, devendo acreditar por completo em nossa criação. O Clown é um personagem que vivemos e experienciamos, talvez mais do que outros personagens teatrais, pois tentamos no Clown expressar o que admiramos na criança, segundo a nossa criança e a nossa opinião. Nesta investigação, também nos auto-conhecemos.
Investigando em nós as qualidades da infância, creio que conferimos ao Clown, além da vida, o carisma da criança, que solicita, doa e inspira instintivamente nos adultos um carinho natural cativante. Ao meu ver, esta é a essência do trabalho do Clown.
Mas não basta ser a criança. Através do Clown, buscamos na criança a expressão livre e a energia suficientes para fazer o público rir. E o riso espontâneo é outro talento da criança tão marcante em nós. O que é uma criança doente, senão aquela que não sorri? Quantas vezes não observamos maravilhados com qual simplicidade e imaginação a criança, sozinha, se diverte?
É natural da infância rir quando se está bem, chorar quando se está triste, expressar a raiva, a impaciência, a vergonha, e todos os sentimentos e estados que, à medida em que desenvolvemos defesas emocionais para a vida madura, começamos a encobrir, disfarçar, evitar que se mostrem de imediato. E assim, vamos perdendo nossa natural capacidade espontânea de expressar, de fantasiar, e mesmo de sentir. Guardamos muito, mostramos pouco, damos muito valor ao medo, e perdemos com isso nossa qualidade de vida. Em geral, vivemos menos intensamente as emoções na nossa maturidade.
O Clown, como a criança, deve ser livre para sentir, e livre para expressar. Ao ser livre e espontâneo, ele provoca no público também a expressão espontânea do riso. Entretanto, o Clown precisa – e eis mais uma dificuldade da profissão – estar acima da condição pessoal do artista, pois enquanto linguagem, o personagem Clown é essencialmente cômico, e fazer rir é seu compromisso com o público que o vê. As dificuldades pessoais do ator-criador restringem o Clown.
Ainda que personalíssimo, o Clown pode rir enquanto o artista, interiormente, sofre. Não há contra-senso, pois o Clown precisa acreditar-se vivo como criança, e sendo criança, separar enquanto está em cena os seus sentimentos de personagem infantil do universo adulto do ator-criador. Caso o adulto contamine demais o personagem, de fato, ele o perde, e assim ele não sensibiliza o público. O Clown torna-se falso, porque não é criança, mas um adulto frágil e deslocado na missão de ser cômico. Ele frustra as expectativas que a imagem do Clown desperta nas pessoas, e estas, frustradas, não riem.
Criado o Clown desse modo, tomando-se por base a vivência infantil do ator-criador, o personagem torna-se muito mais autêntico, verdadeiro, e significativo para quem o representa. Sendo um personagem tão pessoal, tão bem conhecido, o Clown tem toda a capacidade de cativar o público com seu carisma infantil, já não cabendo a pergunta: o Clown pode ser criado, ou é vocação nata?
Todos nós temos vocação para ser criança. Todos exercemos esta vocação durante a vida. Logo, o Clown pode ser criado, bem como pode ser ensinado e orientado. Ele pode ser despertado, ou descoberto, ou desenvolvido a partir de uma vocação já consciente para a Comédia.
Por ser pessoal, a criação do Clown também não segue regras tampouco modelos. Cada processo de criação é individual e único, como é cada artista e cada concepção a respeito de "ser criança". Para muitos, o Clown nasce de brincadeiras lúdicas. Outros o descobrem em vivências e cursos de iniciação, através de exercícios teatrais expressivos. Alguns também possuem muitos elementos, características pessoais, naturalmente cômicos, bastando um olhar atento que aponte o que serve ao trabalho do Clown.
Me parece bem difícil criar sozinho um Clown, pois é na relação com o outro que se faz a Comédia. O Clown sempre provoca o riso no outro, e deve agir sempre com esse objetivo. Por isso, colabora imensamente com a criação o olhar externo, desde que permita a liberdade do ator-criador e oriente sem preconceitos nem egoísmo a comicidade do mesmo artista. Não havendo, porém, uma direção específica do trabalho de criação, o que não pode faltar na construção do Clown é a orientação do público. É imprescindível submeter a criação ao julgo do riso popular, e por ter sido esta a minha experiência própria, costumo dizer que o Clown é uma pesquisa sobretudo prática.
Para se criar o Clown, ou os Clowns – nada impede, na minha opinião, que tenhamos mais de um personagem clownesco, atribuindo a todos nossa marca pessoal –, iniciamos de fato um processo de auto-conhecimento, pois identificamos a criança e suas qualidades em nós, aceitamos e experimentamos expressar nossas emoções, aproveitamos tudo o que temos, naturalmente, a serviço do riso. Nosso Clown talvez seja nossa criança, que não percebeu que cresceu.
Não acredito muito em nos fazermos "ridículos" para atuar no Clown. Não se trata de uma auto-censura, ou exibição de defeitos. Pelo contrário, vejo o Clown como uma auto-aceitação, na qual o ridículo não importa, mas sim o prazer de ser engraçado.
O meu trabalho de Clown começou a florescer quando percebi que o Clown não se tratava de rir-se para talvez mobilizar o público a rir junto. O riso primeiro surge no público, pelo prazer de ver o Clown em ação e, compreendendo, sentir o prazer do Clown em seu modo de vida. Não significa que o Clown viva no prazer, mas ele vive comicamente o tempo todo, envolvendo-se em situações cômicas. O Clown é cômico até na dor, uma dor que, a favor do riso, dura alguns segundos, e que é, visivelmente, engraçada e diferente. Este nonsense é risível, e o sofrimento, ainda que vivido pelo personagem, não dura a ponto de ser dramático.
Sobre meu processo de criação, o que posso dizer é que, depois de muito estudo, não sei quando surgiu o meu Clown, mas sei com segurança que ele não está completamente criado. Quiçá nunca estará, pois em sua vida, e na minha, ele vai se criando e lapidando.
Sou muito grato a todos os apaixonados pela linguagem do Clown, que viram comicidade em mim e, um dia, me convidaram a fazer cursos de Clown, observando: "Você tem jeito de palhaço." Ao que eu respondi prontamente: "Eu não sei se isso é um elogio ou não..." Pois sim, eu já fui um Clown muito diferente de hoje.
Agradeço aos circenses que me ensinaram generosamente a tradição de suas famílias e vidas, e até hoje acreditam que tenho condições de continuar trabalhando com e como Clown. É sempre uma honra conhecer, aprender, e merecer a confiança de artistas que admiro tanto. Graças a eles, eu continuo estudando, e procuro transmitir o que me ensinaram a outros interessados como eu.
Agradeço especialmente, e dedico meu trabalho, ao público que me orienta e incentiva. É para ele que persigo mais qualidade em cada apresentação, e procuro fazer o melhor possível. O público merece sempre um bom trabalho, rir a convite do Clown, pois para este, nenhum problema é insolúvel.
sábado, 22 de maio de 2010
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agradeço por compartilhar sua pesquisa, aqui quem fala é um palhaço em busca da propria escencia,
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