maldito transgressor

maldito transgressor
A hipnose é tão aconchegante...
O costume a inércia...
A responsabilidade em ser inteiro adormecida...
A verdade miando lá fora na chuva...
A Televisão que faz o tempo passar tão rápido e confortável...

Não ouço mais os gritos seus
Não ouço mais os gritos meus
Não ouço mais os gritos
Não ouço mais
Não ouço
Não
Ñ
~

HAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

terça-feira, 11 de junho de 2013

Ensaios/Vivências - Casa Das Caldeiras - Espaço Coletivo Amarelo Croata

A proposta de Jerzy Grotowski

Segue abaixo a reprodução do capítulo dedicado a Jerzy Grotowski no livro “A aprendizagem do ator” de autoria de Antonio Januzelli Janô. Excluindo radicalismos a que os princípios de Grotowski possam levar, esta é a proposta teatral em que acredito.


ALGUNS PRINCÍPIOS

Grotowski advoga o ator “santo” - aquele indivíduo que se engaja a na investigação de si mesmo para se tornar um criador. Esse engajamento exige dele a destruição de todos os estereótipos, até aflorar sua verdade pura. Para Grotowski, o teatro tem certas leis objetivas, e a sua realização só é possível quando respeitadas essas leis. O grande trunfo do teatro é ser um ato gerado pelo contato entre pessoas, o que o configura como um evento também biológico. A realidade do teatro é instantânea, no aqui-e-agora, e executada no próprio organismo do ator frente ao espectador, condições essas que fazem tal arte impossível de ser reduzida a meras fórmulas. A relação do ator com o espectador no teatro de Grotowski torna-se
uma relação física, ou melhor, fisiológica, no qual o choque dos olhares, a respiração, o suor [...] terão participação ativa.
Do ator é exigido o desenvolvimento de uma anatomia especial, resultante da eliminação de toda resistência do corpo e qualquer impulso psíquico. O ato da criação teatral para o mestre polonês nada tem a ver com o conforto externo ou com a civilidade humana convencional, mas com o instinto despertando e escolhendo espontaneamente os instrumentos de sua transformação, numa luta do ator contra os seus bloqueios, atrofiamentos e condicionamentos. O que terá importância nesse processo é a operação de um trabalho interior intenso, pois o teatro só tem significado se o homem puder experimentar o que é real e, “tendo já desistido de todas as fugas e fingimentos do cotidiano, num estado de completo e desvelado abandono”, descobrir-se.


O desejo de Grotowski é liberar as fontes criativas do homem, reconstituindo-lhe “a totalidade da personalidade carnal psíquica”. Nessa caminhada, o papel será um instrumento para o ator fazer uma incisão em si mesmo, investigando tudo o que está oculto em sua personalidade. A moralidade nessa etapa significa expressar a verdade inteira, não esconder o que for básico, não importando se o material é moral ou imoral, pois a primeira obrigação do artista é expressar-se através de seus próprios motivos pessoais e correr riscos, pois não se podem repetir sempre os mesmos caminhos.

A chave mestra desse processo é o reconhecimento do material vivo, constituído pelas associações e recordações do ator, que deverá reconhecê-las não pelo pensamento, que impõe soluções já conhecidas, mas através dos seus impulsos corporais, tornando-se consciente deles, para dominá-los e organiza-los; com o tempo, ele sentirá que o seu corpo começa a reagir totalmente, que não oferece mais resistências, que seus impulsos estão livres... mas nessa experiência é necessário galgar “degrau por degrau, sem falsidade, sem fazer imitações, sempre com toda personalidade, com todo o corpo”.

O MÉTODO DA SUBTRAÇÃO

A via negativa


“O processo criativo consiste [...] em não apenas nos revelarmos, mas na estruturação do que é revelado”.
O que Grotowski chama de “método” é exatamente o oposto de “prescrições” – o ator aprender por ele mesmo suas limitações e bloqueios e a maneira de supera-los; algo o estimula e ele reage, mas as reações não devem ser procuradas, só valerão se forem espontâneas. Para Grotowski todo método que não se abre no sentido do desconhecido é um mau método, e que todos os exercícios que constituem uma resposta à pergunta
Como se pode fazer isso? devem ser abolidos. O processo que ele propõe é o da “via negativa”: O que é que eu não devo fazer? Com uma adaptação pessoal dos exercícios devem-se encontrar soluções para eliminação dos obstáculos, que variam de um indivíduo a outro; sempre são sugeridos ao ator exercícios que induzam a uma mobilização psicofísica, objetivando eliminar tudo que seja seja fonte de distúrbios à suas reações. É imprescindível que ele tenha condições de trabalhar em segurança, que sinta que pode fazer tudo, que será compreendido e respeitado por seus companheiros. “Não se lhes inculca um saber fazer. Eles precisam encontrar um saber ser”.

Deve ser claramente estabelecido para cada ator aquilo que:
¬ bloqueia suas associações íntimas e ocasiona sua falta de decisão;
¬ descoordena sua expressão e disciplina;
¬ o impede de experimentar o sentimento de sua própria liberdade.

Nenhum exercício deve ser feito superficialmente; eles são elaborados pelos atores e adotados de outros sistemas, estabelecendo-se nomes para cada um a partir de idéias e associações pessoais, devendo o ator justificar cada detalhe do treinamento com uma imagem precisa – real ou imaginária.

Os exercícios servem para a pesquisa, e não como mera repetição, e devem ser realizados dinamicamente através da busca de contatos concretos – a recepção de um estímulo do exterior e a reação a ele, com todo o corpo participando da ação. É regra essencial que tudo venha do corpo e através dele, devendo existir uma reação física a cada coisa que afeta o ator, que deve banir todas as formalidades do seu comportamento, erradicando tudo o que não harmonize com seus impulsos, respeitando integralmente o processo natural fisiológico, que nunca deverá ser restringido por sistemas ou teorias impostos.

É necessário o ator fazer um exame geral diário de tudo o que se relaciona com seu corpo e sua voz, e tudo o que for realizado
deve ser sem pressa, mas com grande coragem [...] com toda a consciência, dinamicamente, como resultado de impulsos definitivos.
Para que tudo atinja um resultado, a espontaneidade e a disciplina são aspectos básicos.

O AUTODESVENDAMENTO

É o ato baseado num esforço de total sinceridade, exigindo do ator renúncia “a todas as máscaras, mesmo as mais íntimas e necessárias ao equilíbrio psíquico”.

Esse ato de desvendamento do ator se processa através do encontro consigo mesmo, por meio de um extremo confronto consigo mesmo, disciplinado e preciso, quando o diretor se torna um guia que o ajuda a resolver as dificuldades que possa encontrar e a vencer as inibições e condicionamentos. Nesse processo as ações devem absorver toda a personalidade do ator, desencadeando reações de sua parte que lhe permitam
revelar cada um dos esconderijos de sua personalidade, desde a fonte instintivo-biológica através do canal da consciência e do pensamento até aquele ápice tão difícil de definir e onde tudo se transforma em unidade.
Muitas vezes é preciso estar totalmente exausto para quebrar as resistências da mente e banir as formalidades físicas do comportamento.

Contatos
O ator deve reagir para o exterior, em contato o tempo todo com o espaço que existe em sua volta, com as coisas e pessoas, procurando usar sempre as próprias experiências, reais, especificas, intimas, penetrando no estudo profundo da reações e impulsos do seu corpo.

Associações
São o retorno de uma recordação exata, que emerge não só da mente mas de todo corpo; o ator deve relacionar as ações concretas com uma lembrança, pois as recordações são sempre reações físicas: foi a pele que não esqueceu, foram os olhos que fixaram, os ouvidos que gravaram. Elas não são simples pensamentos, por isso não podem ser calculadas.

Do silêncio
O silêncio é algo difícil do ponto de vista prático, mas é de absoluta necessidade no trabalho do ator. Ele gera a passividade criadora – o ator deve começar não fazendo nada, silencio total; isso inclui até seus pensamentos, pois é necessário que o processo o possua. Nesses momentos, o ator deve permanecer internamente passivo, mas extremamente ativo; são reações que desimpedirão as suas possibilidades naturais e integrais.

Vá para o subsolo:
Grotowski, Jerzy. Em busca de um teatro pobre. Editora Civilização Brasileira.
Obra composta de uma série de artigos, entrevistas e comentários de encenação abordando a filosofia e a prática do trabalho do teatrólogo polonês. Em dois dos capítulos são expostos os exercícios desenvolvidos no seu método de treinamento do ator.













Seguimos nessa intensa pesquisa aqui no espaço do Coletivo Amarelo Croata e na Casa das Caldeiras. Trabalho, trabalho e trabalho. 

Licença para uns "devaneios": 
Estamos chegando em algumas escolhas importantes e sinto definirem-se as margens de três grandes rios que estão prestes a confluir, cada um com suas bagagens e experimentações: 

A aplicação e "controle aerado" da pesquisa da dança do "corpo em vida", corpo dilatado, "corpo energético", corpo sutil, "corpo extra físico", "campo que dança o corpo físico"; 

A pesquisa do "vazio preenchido", do De-Vir, do aqui-agora, do improviso partindo do corpo em experimentação sincera, com algumas marcações referenciais ou não;

A "não interpretação", o ator/canal de passagem, a persona disponível em estado poético, a história acontecendo pela sincera vivência do ator em estado e em relação.

Simplesmente compartilho escolhas e mergulhos que nos propomos, sem nenhuma certeza e muito menos idéias acabadas, essa é a beleza do caminho e o prazer de se poder percorrer esse "entre" tão incerto e inacabado mas tão cheio de possibilidades e tão livre. 

Final desse mês de Junho de 2013 abriremos a temporada de ensaios abertos na Casa das Caldeiras com equipe técnica, provocadores, colaboradores, contatos e amigos.

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