maldito transgressor

maldito transgressor
A hipnose é tão aconchegante...
O costume a inércia...
A responsabilidade em ser inteiro adormecida...
A verdade miando lá fora na chuva...
A Televisão que faz o tempo passar tão rápido e confortável...

Não ouço mais os gritos seus
Não ouço mais os gritos meus
Não ouço mais os gritos
Não ouço mais
Não ouço
Não
Ñ
~

HAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Texto/Movimento - Inspiração

 
Buscando referências textuais que sugerissem movimento eis que cruzo com o poeta croata:
 
 
 
 
Radovan Ivsic


METEOROS


1


Sombria, ela está no vazio. Seu dedo desperta, hesita, depois torna-se peixe. Todo seu corpo se alumia. É o nevoeiro, diz para si mesma.


2


Pesada, no turbilhão, ela é apenas uma ferida. Um grito entreabre sua boca mas os dedos de seus pés são borboletas e alçam vôo. É o relâmpago, diz para si mesma.


3


Vermelha, ela se assusta: não são mais as escamas que recobrem seu corpo mas os lábios tão pequenos, inumeráveis. Ela se envolve num lençol branco. É a neve, diz para si mesma.


4


Trêmula, ela avança em direção ao abismo embora ela gostaria de fugir. Não é um abismo, é um abutre que se precipita em direção à ponta nua de seu seio. É a miragem, diz para si mesma.


5


Citadina, ela tem o segredo para abrir as jaulas. Com o primeiro tigre, ela desce no metrô. Em pouco tempo, estão no deserto. As ampolas se apagam mas no escuro dois olhos verdes não tardarão a se iluminar. É o eclipse, diz para si mesma.


6


Ofegante, ela atingiu o cume da mais alta falésia. De repente, atrás de um rochedo, ela percebe um olho e depois um outro: milhares de pupilas ávidas fixam-se sobre ela. Rápida, ela começa a se despir. Nua enfim, ela avança em direção à encosta abrupta, ervosa, e desce até a planície fazendo a roda. É o ciclone, diz para si mesma.


7


Noturna, no musgo ela descobre as estrelas, os traços de um cervo e enfim uma fonte. Um arminho em fuga se esconde em sua axila. É o cometa, diz para si mesma.


8


Invejosa, ela vê o dorso de um desconhecido que se observa no espelho. Sob o travesseiro, ela pega um machado e o lança em direção à fria superfície para aniquilar sua profundidade enganosa. O desconhecido se desvia e a desfigura para ver sua nova imagem, talvez. Não. É o terremoto, diz para si mesma.

 
 
Como diria um bailarino amigo: "parece dançar Butoh com o lápis". Texto que inspira o corpo.

Tivemos um ensaio aberto recentemente com a presença do Diretor e Dramaturgo Alexandre Dal Farra. Foi muitíssimo interessante ter retornos do ponto de vista de alguém que pensa dramaturgia e lida tão bem com textos para gerar conflitos e movimentos. Provocados justamente à abrirmos mãos dos textos antigos para mergulharmos no "tecer" dos desequilíbrios físicos, iniciamos essa pesquisa mais profunda de que  Textus (que originalmente tinha o significado de “material tecido”, do verbo texere, “tecer”) terá essa peça.
 
    “Nós partimos sempre de um erro, mas todo o segredo que está nisto é que, depois, nós podemos corrigir a trajetória. E é na correção da trajetória que começa a verdadeira competência. Sim, mas eu repito: não é que uma metafísica conduza a uma técnica; é uma prática que leva a uma sabedoria”. Grotowski

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