Buscando referências textuais que sugerissem movimento eis que cruzo com o poeta croata:
METEOROS
1
Sombria, ela está no vazio. Seu dedo desperta, hesita, depois torna-se peixe.
Todo seu corpo se alumia. É o nevoeiro, diz para si mesma.
2
Pesada, no turbilhão, ela é apenas uma ferida. Um grito entreabre sua boca mas
os dedos de seus pés são borboletas e alçam vôo. É o relâmpago, diz para si
mesma.
3
Vermelha, ela se assusta: não são mais as escamas que recobrem seu corpo mas os
lábios tão pequenos, inumeráveis. Ela se envolve num lençol branco. É a neve,
diz para si mesma.
4
Trêmula, ela avança em direção ao abismo embora ela gostaria de fugir. Não é um
abismo, é um abutre que se precipita em direção à ponta nua de seu seio. É a
miragem, diz para si mesma.
5
Citadina, ela tem o segredo para abrir as jaulas. Com o primeiro tigre, ela
desce no metrô. Em pouco tempo, estão no deserto. As ampolas se apagam mas no
escuro dois olhos verdes não tardarão a se iluminar. É o eclipse, diz para si
mesma.
6
Ofegante, ela atingiu o cume da mais alta falésia. De repente, atrás de um
rochedo, ela percebe um olho e depois um outro: milhares de pupilas ávidas
fixam-se sobre ela. Rápida, ela começa a se despir. Nua enfim, ela avança em
direção à encosta abrupta, ervosa, e desce até a planície fazendo a roda. É o
ciclone, diz para si mesma.
7
Noturna, no musgo ela descobre as estrelas, os traços de um cervo e enfim uma
fonte. Um arminho em fuga se esconde em sua axila. É o cometa, diz para si
mesma.
8
Invejosa, ela
vê o dorso de um desconhecido que se observa no espelho. Sob o travesseiro, ela
pega um machado e o lança em direção à fria superfície para aniquilar sua
profundidade enganosa. O desconhecido se desvia e a desfigura para ver sua nova
imagem, talvez. Não. É o
terremoto, diz para si mesma.
Como diria um bailarino amigo: "parece dançar Butoh com o lápis". Texto que inspira o corpo.
Tivemos um ensaio aberto recentemente com a presença do Diretor e Dramaturgo Alexandre Dal Farra. Foi muitíssimo interessante ter retornos do ponto de vista de alguém que pensa dramaturgia e lida tão bem com textos para gerar conflitos e movimentos. Provocados justamente à abrirmos mãos dos textos antigos para mergulharmos no "tecer" dos desequilíbrios físicos, iniciamos essa pesquisa mais profunda de que Textus (que originalmente tinha o significado de “material tecido”, do verbo texere, “tecer”) terá essa peça.
Tivemos um ensaio aberto recentemente com a presença do Diretor e Dramaturgo Alexandre Dal Farra. Foi muitíssimo interessante ter retornos do ponto de vista de alguém que pensa dramaturgia e lida tão bem com textos para gerar conflitos e movimentos. Provocados justamente à abrirmos mãos dos textos antigos para mergulharmos no "tecer" dos desequilíbrios físicos, iniciamos essa pesquisa mais profunda de que Textus (que originalmente tinha o significado de “material tecido”, do verbo texere, “tecer”) terá essa peça.
“Nós partimos sempre de um erro, mas todo o segredo que está nisto é que, depois, nós podemos corrigir a trajetória. E é na correção da trajetória que começa a verdadeira competência. Sim, mas eu repito: não é que uma metafísica conduza a uma técnica; é uma prática que leva a uma sabedoria”. Grotowski
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