maldito transgressor

maldito transgressor
A hipnose é tão aconchegante...
O costume a inércia...
A responsabilidade em ser inteiro adormecida...
A verdade miando lá fora na chuva...
A Televisão que faz o tempo passar tão rápido e confortável...

Não ouço mais os gritos seus
Não ouço mais os gritos meus
Não ouço mais os gritos
Não ouço mais
Não ouço
Não
Ñ
~

HAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

sábado, 13 de outubro de 2012

Poemas


      Permanência


Há sempre um ir e voltar...
E o que mais me entristece na volta
é olhar em volta
e sentir em tudo a vibração da visão perdida na dia –
contemplação da esperança já finda.

Em cada andar de regresso
há um todo em retrocesso:
tempo e espaço em cada passo
distância na ânsia do que fomos
do que somos.

Eu que fui não sou eu que volto.
Há algo mais em mim que antes não tinha.
Um pouco mais do mundo
trago aqui no fundo –
algo novo, recente, intransigente
que se fez presente
malgrado eu.

Trago no bolso o lenço sujo
da poeira da estrada;
no coração, a certeza de ter nada.

No cerrar dos meus olhos
há um medo de quem teme ver no espelho
a face transformada
a boca enrugada
a alma amassada.

Ah, como é triste voltar:
quisera ficar, sempre ficar.

Sobe aos meus lábios um grito louco de dor
e eu tenho vontade de dizer tudo o que for
mas de achar em mim
um pouco do que eu era quando vim.

Há sempre um ir e voltar.
Mas há de haver um dia
em que todos me hão de levar
e só eu hei de ficar.



Maria Lúcia Dal Farra



               Intervalo


Há um enorme espaço no meu passo
entre o que sou e o que passo a ser
que enquanto a minha perna direita vai à frente
a minha esquerda fica sempre atrás:
e nunca estão juntas
e eu nunca me igualo
porque nunca paro.

As mãos, não:
ponho-as onde as quero -
mas de que me adianta
se são as pernas que me levam?

E eu me divido toda
entre o que vai à minha frente
e o que fica atrás
e nesta confusão de sentimento e sensação
a única coisa constante
é o meu corpo –
que me leva e traz.

Talvez um dia eu pare.
Sim, talvez eu pare andando.
E então o meu eu vai se dissipar
no vácuo do espaço
entre
meus passos.


Maria Lúcia Dal Farra


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