PALHAÇO
“O fenômeno, para Lecoq, ultrapassa a simples representação e seu espetáculo. Torna-se um modo de expressão pessoal. O clown põe em desordem uma certa ordem e permite assim denunciar a ordem vigente. Ele erra e acerta onde não esperamos. Toma tudo ao pé-da-letra no sentido primário e imediato.”
“O estudante de palhaço deve entender que não há nada que aprender, senão apenas reaprender o que lhe é original. Juventude, fantasia, imaginação e inocência precisam ser capturadas, compreendidas e dominadas para desenvolver o nascimento do palhaço. Uma vez que o estudante tenha entendido isto, pode combinar com os conhecimentos prévios e habilidades do ofício que já tenha adquirido e assim, então, estará pronto para aprender algo novo.”
“Todos nós temos um palhaço dentro de nós e temos que ajudá-lo a encontrar a liberdade.” Jango Edwards
“Ele é o corpo do artista que precede o espírito e o corpo dos atores, cómicos, clowns, para ainda nos fazerem rir das dificuldades da vida. Resiste até nossos dias com uma lógica específica como movimento contrário ao controle social e aos processos civilizadores. Olhamos para esse movimento como um tipo de resistência a qual a arte imprime, embora existam processos para estabelecer o funcionamento das estruturas sempre existirá na arte o mecanismo de adaptação e transformação, que guarda a existência secreta de outras divindades que formam a identidade de subverter independente da realidade existente.”
"O clown exige também uma proeza, freqüentemente ao inverso da lógica; ele põe em desordem uma certa ordem e permite assim denunciar a ordem vigente: deixa cair o chapéu, vai apanhá-lo mas, desajeitadamente, dá-lhe um pontapé e, sem querer, pisa na bengala que lhe joga de volta o chapéu nas mãos. O clown erra onde não esperamos e acerta onde não esperamos. Se tentar um salto perigoso, cai, mas o executa quando lhe dão uma bofetada. Assim o clown Grock, escondido atrás de um biombo, conseguia junglar com três bolas, só elas visíveis ao público, o que não conseguia fazer perante o público."
"Essa busca de seu próprio clown reside na liberdade de poder ser o que “é”, e de fazer com que os outros riam disto, de aceitar a sua verdade ..." Jacques Lecoq.
"Se o que você esta fazendo for engraçado, não há necessidade de ser engraçado para fazê-lo." Charles Spencer Chaplin
“ O palhaço faz tudo, sempre, seriamente. Por certo, isto não significa que não queira ser cômico. Ao contrário, sua meta é fazer rir. Mas o verdadeiro cômico consegue isso sem tentar fazer rir a qualquer preço.”
"O riso não é um objetivo, é um meio que leva a idéia até o entendimento."
Karandash
"A função do palhaço é a de fazer público sentir emoções e respirar. Todos inspiram, mas muitos de nós devem ser lembrados de expirar. A imaginação e o cérebro estão conectados ao corpo e o afetam. Qualquer alteração na mente provoca uma mudança no corpo. Qualquer alteração no corpo, na respiração primeiramente, causa uma mudança correspondente na mente. Não diga ou mostre ao público o que pensar, fazer ou sentir. Não diga ou mostre aos seus parceiros o que pensar, fazer ou sentir. Não aponte.
O peso pertence ao lado debaixo. Mantenha um único ponto na parte inferior do abdômen. Mantenha sua energia fluindo. A tensão é sua inimiga. Ela produz dormência emocional, mental e física.
O que você pensa a respeito da sua performance é o que conta, não se ela é realmente boa ou ruim.
O palhaço descobre a platéia que está sentada, olhando para um espaço vazio e esperando por um show. Deve-se lidar com isso estabelecendo-se cumplicidade com o público.
O palhaço cria um mundo no espaço vazio, ao invés de entrar num mundo que já existe (esquete).
Usar mímica para criar fantasia, não para recriar a realidade.
O palhaço procura criar um jogo e definir as regras, as quais a partir de então deverão ser obedecidas.
Não peça ou diga ao público como se sentir ou pensar. Tenha uma experiência emocional e convide o público a se juntar à sua reação.
É essencial ser interessado, não interessante.
Você tem que respirar durante toda a sua vida, mesmo no palco.
O palhaço entra no palco para fazer um trabalho, não para provocar risos. Se houver risos, eles serão interrupções com as quais deverá lidar."
Avner the Eccentric
“O viajante que passa pelos tempos, participa na construção de sonhos, de esperança e de alegria, para comungar e consumar o seu acto e ofício em que os problemas do clown são solucionados pelo globo vermelho visto por meio do grande espectáculo dos fools(espíritos dos clowns), subvertendo e burlando a ordem das coisas para que o espectador adorne-se com a arte de rir da sua própria dor.” (WUO,1999)
“Para poder ser Palhaço aprendi muita técnica. No princípio aprendi, depois esqueci.”
Chacovachi - Argentina
“É um ser ingénuo e ridículo; entretanto, seu descomprometimento e verdadeira ingenuidade lhe dão poder de burlar situações, pessoas com certa impunidade."
Luis Otávio Burnier - LUME Teatro
"A contestação não é o esforço do pensamento para negar existências ou valores, é o gesto que reconduz cada um deles aos seus limites, e por aí ao Limite no qual se cumpre a decisão ontológica: contestar é ir até o núcleo vazio no qual o ser atinge seu limite e no qual o limite define o ser." (FOUCAULT, 2001. p. 34)
"O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até ao ponto em que todos possam apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é - ou deveria ser - a mais elevada forma de arte." Chaplin
“os palhaços têm um segredo que apenas eles sabem desde que estão no berço” Carequinha
Esses segredos, por ora ridículos - simples -, devem ser revelados para a platéia.
"Uma couraça para não sentir. Uma couraça para não dar, outra para não receber. Uma couraça para evitar o verdadeiro. E um nariz para destruir todas elas e poder mostrar a nossa alma "
"Por meio de improvisações e jogos específicos, tentamos descobrir e derrubar algumas das couraças que adquirimos durante a vida e que a sociedade fortalece eficazmente, impedindo mostrar a nossa essência. Sem estes “escudos” poderemos recuperar o ridículo e o essencial de cada um de nós.O jogo e o prazer constante são os instrumentos para esta busca, mas também o respeito e a tremenda coragem para enfrentarmos com as nossas debilidades."
Lily Curcio
"Um palhaço é acima de tudo uma criação particular, uma exteriorização de algo extremamente íntimo e puro do indivíduo; uma essência que encontra no riso e no exagero a falta de barreiras para sua emergência. O palhaço não é um personagem que alguém apenas veste; o movimento é justamente o inverso, o personagem veste o palhaço. Cabe ressaltar, porém, que o verbete personagem é inapropriado para se referir ao palhaço, pois este último nunca é estanque e sua personalidade se desenvolve de forma conjunta com a do sujeito. Clarice Lispector, em seu livro Água viva, discorre sobre o que ela busca ao escrever. O palhaço em seu contato com o público – utilizando-se apenas de um meio diverso do de Lispector (seu corpo e o riso) –, também busca o mesmo que esta escritora: Estou lidando com a matéria-prima. Estou atrás do que fica atrás dopensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo não deixando, gênero não me pega mais. Estou num estado muito novo everdadeiro, curioso de si mesmo, tão atraente e pessoal a ponto de não poder pintá-lo ou escrevê-lo. [...] É um contato com a energia circundante eestremeço. Uma espécie de doida, doida harmonia. Sei que o meu olhar deveser de uma pessoa primitiva que se entrega toda ao mundo, primitiva como os deuses que só admitem vastamente o bem e o mal e não querem conhecer o bem enovelado como em cabelos no mal, mal que é o bom15. O palhaço é essa doida harmonia, algo em estado puro, primitivo, que se liga ao mundo com o mínimo de amarras possíveis. É uma energia viva, é a sinceridade de se assumirlimitado, de assumir a dor e ser capaz de rir com o objetivo de a transgredir. Ainda nas palavras de Alice Viveiros de Castro, um palhaço é um ser estranho que bota a mão no fogo, que põe a cabeça na guilhotina e que se expõe nu em sua tolice e estupidez. [...] Ele não conta uma história engraçada. Ele é a graça, ele é o risível. [...] Literalmente o palhaço dá a cara à tapa!16Clown é transgressão de regras; é transgressão do próprio corpo. É a construção de um novo corpo, único. É a liberdade permitida através da arte, do fazer arte, daarte absolutamente viva e ao vivo, porque o clown só é naquele momento. Mesmo que haja uma cena ou um esquete previamente preparados, a graça se fará no improviso. O palhaço se entrega ao improviso, se joga no desconhecido e esse é seu material primordial."
Aureliano Lopes da Silva Junior
"O palhaço é um transgressor e isto ocorre no momento em que, mesmo de forma sutil, oferece uma nova possibilidade para aquilo que se encontrava rígido há tempos. É a personificação do insólito, do não usual, da não norma. Um ponto interessante a ser ressaltado é que tal forma de lidar com o mundo aparece até em suas vestimentas: seu nariz é protuberante e vermelho, sua roupa adquire as mais variadas formas e texturas, seus sapatos são enormes ou no mínimo diferentes, sua maquiagem e cabelo são igualmente livres de modelos prévios e acima de tudo ele constitui-se de uma explosão de cores. Ao palhaço todas as cores, formas e ações são permitidas. E já que ele possui essa permissão para brincar, acaba desempenhando um papel de questionador social. Sobre a importância desta permanência do palhaço como um agente social, novamente recorro aos estudos de Renato Queiroz: O trickster colocaria em jogo, assim, o inesperado, o indefinido,desrespeitando, no nível do imaginário, a própria ordem social. Aindasegundo Balandier, o seu papel seria, sob muitos aspectos, semelhante ao de outros personagens – bufões, mascarados, bobos da corte – aos quais se concede licença para que possam zombar da ordem estabelecida, “quebrandoaparências e desfazendo ilusões”. Muito embora as transgressões cometidas por tais figuras sejam autorizadas pela sociedade, a própria ordem acabariasendo assim reforçada, por meio de um processo catártico, e ainda com o mérito de revelar aos seus integrantes a desordem que poderia se instaurarcaso as normas, os códigos e os interditos viessem a se dissolver. Elemento, aum só tempo, perturbador e agente da ordem, decorreria disto a ambigüidade do trickster26. O papel do palhaço seria, então, o de questionar a ordem social e não exatamente o de modificá-la. O palhaço é a constante escapulida, a subversão da ordem e a subversão da subversão, pois uma vez subvertida, seu produto já não interessa mais; é nova ordem. Seu prazer está em agir e provocar uma agitação no público, incitando-o a repensar o mundo e a si próprio. O clown pode, neste movimento, ser um agente da ordem, mas nunca sem antes lançar sobre ela todas as suas cores, objetivando uma maior reflexão e ampliação do homem e de seu meio, agindo em seu imaginário. Como afirma Paul Radin a respeito do trickster, ele representa os esforços que fazemos todos para cuidarmos dos problemas do nosso crescimento, ajudados pela ilusão de uma ficção eterna." Aureliano Lopes da Silva Junior
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
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