maldito transgressor

maldito transgressor
A hipnose é tão aconchegante...
O costume a inércia...
A responsabilidade em ser inteiro adormecida...
A verdade miando lá fora na chuva...
A Televisão que faz o tempo passar tão rápido e confortável...

Não ouço mais os gritos seus
Não ouço mais os gritos meus
Não ouço mais os gritos
Não ouço mais
Não ouço
Não
Ñ
~

HAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Mulheres Palhaças




Existe uma graça feminina? Uma comicidade que só a mulher pode ter? Hoje celebra-se, no Brasil, o Dia do Palhaço. A data foi criada em justa homenagem ao palhaço Piolim (Abelardo Pinto, 1897-1973). Mas a reportagem do Caderno 2 pede licença a todos os homens - que desde os tempos imemoriais com seus narizes vermelhos, sapatos bicudos e roupas coloridas encantam crianças e adultos - para dar voz à mulher palhaça.


Em todo o mundo, não faz muito tempo, elas vêm chegando de mansinho, com delicadeza, para compartilhar espaço no picadeiro. A presença feminina na palhaçaria - pelo menos para valer, em quantidade, sem contar pioneirismos de mais ousadas - tem no máximo 20 anos. Por exemplo, quando em 1991 quatro jovens cariocas fundaram As Marias da Graça, surgia o primeiro grupo brasileiro integrado inteiramente por clowns femininos: elas eram Vera Lucia Ribeiro, Geni Viegas e Karla Conká, até hoje na companhia, e Ana Luisa Cardoso, a palhaça Margarita, atualmente em carreira-solo. Com a entrada de Samantha Anciães, as Marias voltaram a ser quatro. Na semana passada, elas apresentaram em Viena o espetáculo Tem Areia no Maiô.





Mas ao entrar na palhaçaria, a mulher transforma o modo de fazer rir? Eis a questão. Bem, de saída tem de ser mudada a resposta à pergunta: o palhaço o que é? E não dá para simplesmente inverter: ladra de homem não cola. Claro, alguma coisa muda com a presença feminina, mas há algo de realmente específico no humor da palhaça? Depois de ouvir algumas artistas do riso, a conclusão é a de que esse assunto controverso dá rasteira em todas as convicções.




Comecemos por tombos, tabefes e cascudos, ações que sempre vêm à mente quando pensamos em palhaços. "Mulher apanhando ou batendo não é engraçado", diz Beatriz Sayad, que atua nos Doutores da Alegria. "Talvez pelo ambiente do hospital, talvez pela violência contra a mulher; só funciona se for muito falso, se revelar o truque", diz ela. Em compensação as palhaças provocam riso ao desmaiarem ou se atrapalharem diante do chefe ou do médico bonitão.




Outra imagem característica é a perda das calças, o palhaço que mostra as ceroulas. A nudez funciona no humor feminino? "Não funciona da mesma forma, assim como o travestimento: homem vestido de mulher é engraçado e o oposto não. O gênero, o sexo, é totalmente relevante no humor", diz Rhena de Faria, criadora de Mademoiselle Blanche, uma das 4 mulheres palhaças entre os 12 integrantes do Jogando no Quintal.





Mas, curiosamente, no espetáculo Pelo Cano, as palhaças Vera Abbud (Emily) e Paola Musatti (Manela), ambas também do Jogando no Quintal, competem pela beleza e Manela chora porque a outra diz que ela tem a bunda amarela. "No fim, ela mostra a bunda que é mesmo amarela", diz Vera. Mas dá para perceber que se trata de um número com "colorido" especial, não é simplesmente uma abaixada de calças.




E mais. Mafalda Mafalda, nome da palhaça de Andrea Macera, dá verdadeiras surras no pobre Zabobrim (Ésio Magalhães), seu parceiro no espetáculo A Julieta e o Romeu. Todo palhaço lida com objetos de cena: pois tesoura e espingarda fazem parte do solo de Mafalda Mafalda, assim mesmo, nome duplo, para caber seu ego de diva. "Quando me iniciei nessa arte, eu queria ser mais engraçada, mais suave, mas nunca consegui", diz Andrea. Na tradicional dupla de clowns há o chamado branco - o que sabe tudo, mandão e batedor - e o augusto - trapalhão, o que sempre apanha. A palhaça de Andrea pode ser chamada de ?branca?, assim como Margarida, a palhaça de Adelvane Néia.




"Tudo depende de como se faz e a mulher faz diferente", argumenta Adelvane, conhecida por sua defesa da comicidade especificamente feminina. "Não li sobre isso, não teorizei." A prática trouxe o reflexão. "Quando comecei tinha muita dificuldade com os modelos da tradição clássica, tropeçar em cadeiras, as quedas. Eu nunca vi tapa na cara entre duas palhaças ser engraçado. Claro que sempre existiram palhaças no picadeiro, ainda que raras, na maioria das vezes travestidas de homem, mas nunca se teorizou sobre elas. Acho que às mulheres faltam referências, modelos; estamos construindo isso agora." O que não quer dizer que sua palhaça seja só suavidade, pelo contrário. Ela mesma, como Margarida, chega ao local da representação bem mal-humorada e antipática.




Nos últimos anos, a cada debate sobre palhaçaria lá vem a discussão em torno da existência ou não do humor de gênero, a suposta comicidade feminina, e sempre há controvérsia. Com uma coisa todos concordam: o arquétipo do palhaço é a inadequação, os limites humanos que levam ao ridículo. O sexo masculino, historicamente, sempre esteve associado ao poder e a mulher à fragilidade. Talvez por isso tenha graça homem vestido de mulher, apanhando ou caindo.





"Demorou para que a mulher colocasse a feminilidade como expressão humorística", diz Rhena. "Arrisco o palpite de que essa demora ocorreu porque o humor adquire seu espaço somente depois do processo de afirmação. Acho que é mais difícil conseguir rir da gente mesma quando ainda estamos tentando ser levadas a sério. E a mulher levou mais tempo para conquistar o seu espaço na sociedade. Hoje já conseguimos fazer humor de nosso lado mais ridículo." Rhena de Faria é diretora do solo de Andrea Macera e autora de um artigo sobre o cômico feminino intitulado Palhaça Sim Senhor, do qual ?roubamos? o título.




"O arquétipo do palhaço é masculino", concorda Ana Luisa Cardoso. Mas essa pioneira na palhaçaria no Brasil - que por sinal não gosta de ser identificada assim em consideração às ousadas mulheres palhaças de todos os tempos - diz que cada vez mais busca recriar as entradas clássicas circenses. "Por exemplo, há aquele truque de encher um balão como se fosse o dedão do pé que incha depois que um objeto pesado cai sobre ele; como Margarita, eu inflo meus peitos, eles estouram em cena, e os homens morrem de rir", conta.





"Eu sempre me encanto com o palhaço", afirma Ana Luisa. "A mulher ainda está caminhando. Eu diria que ela avança muito bem, mas pessoalmente admiro o palhaço tradicional e estou querendo buscar o equivalente feminino das reprises antigas do picadeiro." Apaixonada por Carequinha, ela se inspirou no bordão do ídolo - "tá certo ou não tá?" - para criar o seu: "tá tudo errado." Em seu número de rua, ela chega munida de vassouras, baldes e panos e limpa tudo criteriosamente, atitude por sinal presente em muitas palhaças, a obsessão pela limpeza. "Mas em seguida ela decide fazer um bolo, e aí já viu: farinha, ovos... Ela mesma diz: como eu sabia que iria sujar comecei limpando."





Ao fundar seu grupo, As Marias da Graça tornaram-se referência para jovens palhaças e falaram à reportagem do Estado via internet, pois estavam em Viena como convidadas do Clowin, um Festival Internacional de Palhaças. "Foram nove dias durante os quais apresentamos Tem Areia no Maiô, participamos de um debate com palhaças de Israel sobre o tema Mulher, Humor e Pobreza, e assistimos a todos os espetáculos como curadoras, para trazermos em 2009 ao Brasil algumas das palhaças que vimos. Após participamos de um festival de palhaças em Andorra, em 2003, resolvemos criar o nosso, intitulado Esse Monte de Mulher Palhaça, em 2005. Já tivemos a 2ª edição em 2007 e teremos a 3ª em setembro do ano que vem."





Para as Marias, homens e mulheres são diferentes, conseqüentemente o humor mostra essa diferença. "Existem várias palhaças que trabalham tendo como referência as gags tradicionais. A gente escolheu um outro caminho, criamos nossas próprias referências. Para nós, a palhaça (e o palhaço) trabalha com a verdade, o humor vem de dentro para fora, o que imprime uma autenticidade às questões."





Quanto ao ?humor vem de dentro?, também há polêmica. Há duas vertentes no que diz respeito à criação do palhaço. Numa delas, que tem o Grupo Lume como uma das principais escolas brasileiras, difunde-se a idéia de que cada um tem seu próprio clown, personalizado, misto de subjetividade e olhar sobre o mundo. Já no circo clássico, o palhaço tem talento cômico, mas aprende em família, herda uma forma de fazer que é secular, as chamadas reprises, entradas, gags. O que é comum a ambos é a subversão do poder por meio da exposição do ridículo - a poética do palhaço está no fracasso.




De uma ou outra forma, a diversidade talvez seja mesmo a marca do universo das palhaças. Algumas exploram os chamados temas femininos - beleza, envelhecimento, obsessão por limpeza, entre eles -, outras preferem recriar, com um sutil toque feminino, as gags tradicionais e outras ainda exploram poéticas universais. É o caso de Silvia Leblon, cujo solo, Spirulina em Spathodea tem como tema nada menos que a morte. "Uma das coisas que caracterizam o palhaço é o jogo com objetos", diz Silvia. No seu caso, sai de seu baú, entre outras coisas, uma boneca inflável que ela enche e esvazia ou mata e ressuscita, na sua lógica. "Muitos dizem que Spirulina é fantasmagórica, espectral, não se sabe se é gente ou boneca", conta Silvia. O fato é que seu solo é onírico e ganha tons que independem de gênero.




Mas se o palhaço nasce para subverter a regra, na opinião de Vera Abbud, a mulher pode quebrar expectativas sobre o suposto humor feminino. "Como palhaça, posso fugir do estereótipo da competição entre mulheres, do excesso de funções, da solidão de não ter marido, de ser infeliz por estar gorda ou magra. Posso ir por outro caminho, posso mostrar por exemplo o ridículo da maternidade", diz. "Posso buscar outras inadequações, e não vestir a carapuça do feminino."




Sempre rende gargalhadas, por exemplo, adentrar pelo dito universo masculino. No solo Margarita Vai Margarita, a palhaça de Ana Luisa Cardoso, chega na rua de macacão de gari limpando tudo e buscando briga. "Ela luta boxe." E, claro, tira humor disso. As Marias da Graça fizeram do futebol tema de um de seus mais bem-sucedidos espetáculos - Pra Frente Marias, que elas planejam reencenar em breve. Era um espetáculo mudo, uma partida de futebol, na qual o diálogo, e até os pensamentos, de jogadoras e da juíza, podiam ser lidos pelo público em placas.




"Homens e mulheres são diferentes, conseqüentemente o humor mostra essa diferença", argumentam as Marias da Graça. "A pancadaria não faz parte da tradição feminina, mas isso não quer dizer que as mulheres não batam." Que o diga o pobre Zabobrim apanhando de sua amada Mafalda Mafalda. Mas só mesmo para fazer rir o respeitável público. Afinal, aos tropeços, a mulher chegou ao picadeiro com humildade e a graça de palhaça.




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HOMEM OU MULHER, ARQUÉTIPO É A INADEQUAÇÃO

SUBVERSÃO DE PADRÕES: Nós achamos que aula de palhaço(a) deveria fazer parte do currículo escolar, porque a criança aprenderia a ser autêntica, garantindo sua individualidade dentro de uma sociedade que exige um padrão. A inadequação feminina acontece quando você percebe que não quer se encaixar dentro de um padrão preestabelecido. Como palhaça você pode tudo, inclusive não se adequar a nada. Fomos criadas para sermos perfeitas, santas, lindas. Quando decidimos ser palhaças, rimos disso tudo com olhar crítico.



Geni Viegas, Karla Conká, Samantha Anciães e Vera Lucia Ribeiro (As Marias da Graça)
http://www.asmariasdagraca.com.br/

Um comentário:

  1. Adoro ir ao circo para ver palhaços! Com as suas alegrias eles anesteciam as minhas dificuldades do dia a dia.

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